Justiça desvenda quadrilha de estelionatários que desviava cartões de crédito enviados pelos Correios.
Em um sítio no município de Magé, estava tudo pronto para a festa. O noivo e a noiva, felizes da vida, e cerca de cem convidados. Diante do juiz de paz, chegou o momento das juras de amor,
na pobreza e na riqueza. Por que será que o noivo achou graça na hora em que ouviu a palavra riqueza? Mas a alegria iria acabar.

Segundo a polícia, os noivos Maxwell da Costa e Rayza Gomes, e também o padrinho Raphael da Costa fazem parte de uma quadrilha especializada em desviar cartões de crédito enviados pelo Correio. O esquema já arrecadou R$ 5 milhões.
Entenda o golpe
Os bandidos conseguiam ilegalmente dados cadastrais de clientes de cartões em listas vendidas até pela internet. Depois, carteiros e prestadores de serviço dos Correios, que eram parte da quadrilha, desviavam esses cartões.
Em um telefonema gravado com autorização da Justiça, um integrante da quadrilha chamado Alex fala com uma cúmplice nos Correios. Alex já sabia quais são os cartões com maior limite de crédito e orientou a cúmplice a abrir os envelopes certos. “Antes de tu abrir, olha e vê de onde é, entendeu”?, diz Alex. “E te passar o endereço”, pergunta a cúmplice. “Isso. E o nome. Que eu vejo de quanto é”, responde o integrante da quadrilha.
Na etapa seguinte, os bandidos telefonavam para solicitar desbloqueio, aumento do limite de gastos e cartões adicionais. Mas nem sempre isso dava certo. Quando outro integrante da quadrilha, Anderson Souza, o Dinho, tentou desbloquear um cartão e a atendente se recusou, ele debochou: “quase todo dia eu uso R$ 20, R$ 30 mil. Não sou leigo não. Eu já ‘tô’ com meu mecanismo de trabalho todinho, eu sei que vou conseguir”.
Na maior parte das vezes o golpe dava certo. Então, o grupo ia às compras e adquiria produtos eletrônicos, eletrodomésticos e caixas de bebidas. A câmera de segurança de um supermercado flagrou Maxwell e um comparsa ainda não identificado. Eles enchem dois carrinhos de produtos. A etapa final do golpe era vender as mercadorias a receptadores.
A quadrilha gostava de se exibir. Integrantes usaram um site de relacionamentos para mostrar como gastavam o dinheiro viajando. De acordo com a polícia, Wanderson Marques, um dos chefes da quadrilha comandava o esquema de dentro de uma cadeia, em Niterói. Wanderson, que cumpre pena pelo crime de receptação, acionava os comparsas da própria prisão usando um telefone celular.
Além das operadoras de cartões de crédito, o golpe também prejudicava os verdadeiros donos dos cartões. “Eles é que têm, de alguma forma, fazer a prova de que não fizeram essa transação financeira e, muitas vezes, têm o saldo de suas contas reduzidos para pagar essas contas que são feitas pelos estelionatários”, diz o delegado Fernando Vila Pouca.
Neste fim de semana, 19 pessoas foram presas e oito delas estavam no casamento. Elas vão responder pelos crimes de estelionato, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e falsificação de documentos. Somadas, as penas podem chegar a 20 anos de prisão.
Pelo jeito, a festa acabou.
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