Elas viveram horas de tensão e recordam tragédia que teve duas mortes.
Ex-capitão do Bope revela que oficial chorou por operação ter falhado.
Passados dez anos, o sequestro do ônibus 174 ainda está muito vivo na lembrança de pessoas que, de alguma maneira, vivenciaram o episódio. Permanece na memória da repórter que narrou, ao vivo, o seqüestro pela TV durante mais de três horas. Sobrevive, rico em detalhes no relato do porteiro do clube localizado em frente ao local onde ocorreu o crime. E nas recordações de uma estudante universitária que se tornou jornalista, e que por muito pouco não embarcou no ônibus.
O sequestro, que ficou marcado no histórico de violência do Rio, terminou com a morte de uma refém e do sequestrador, numa ação policial considerada desastrada por especialistas em segurança pública.“Lembro perfeitamente, como se fosse agora. Estava o maior engarrafamento, e o ônibus vinha lá atrás. Era o que eu pegava todo dia, da faculdade para casa”, conta, sem titubear, a jornalista Antonia Martinho da Rocha, de 30 anos, que, na época, estudava na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), na Gávea, na Zona Sul.
Vanessa Riche conta que sentiu muito medo quando Sandro do Nascimento deu o primeiro tiro, que atravessou o para-brisa do ônibus. “Ele não queria a imprensa por perto, e eu estava mais para a frente do ônibus. O tiro foi na minha direção. Eu corri e me escondi atrás de uma árvore”, lembra. Um dos momentos do sequestro que mais marcou o porteiro Delvalle foi quando Sandro atirou contra uma refém, que estava no chão do ônibus. “Todo mundo achou que ela tinha morrido. Queriam arrebentar o cordão de isolamento para pegar o sequestrador”, recorda ele. Mais tarde, descobriu-se que Sandro tinha avisado à refém que não iria matá-la, mas que ia atirar para forçar os policiais a atenderem às exigências.
Durante o sequestro, por pelo menos duas vezes, Sandro chama por uma tal Ivone. Na verdade, a mulher a quem Sandro se referia tem a grafia bem diferente do convencional. A artista plástica Yvonne Bezerra de Mello, que tem um projeto social onde cuida de crianças traumatizadas pela violência, conhecia Sandro desde a Candelária.
“Eu fui muito importante na vida dos meninos da Candelária”, recorda Yvonne. Quando soube do crime, à noite, assistindo ao Jornal Nacional, da TV Globo, ela ficou com uma sensação de culpa. “E se eu tivesse ido até o local? E se eu tivesse feito alguma coisa? Mas o destino não quis”, lamenta.
Passados 10 anos, família de refém morta ainda não recebeu indenização Geisa sendo carregada após ser alvejada.
Mesmo com o processo transitado e julgado no Superior Tribunal de Justiça (STJ), em 2006, Gilson Martins Gonçalves, pai de Geisa, ainda não recebeu os R$ 50 mil de indenização por danos morais, nem a aposentadoria vitalícia de três salários-mínimos.
Sobre a morte de Sandro do Nascimento, Yvone, Luiz Eduardo e Rodrigo concordam.“Baseado no entendimento do tribunal do júri, que absolveu os policiais, a quase totalidade da sociedade carioca queria estar naquela viatura do Bope, enforcando Sandro do Nascimento”, observa Pimentel. “Essa execução extrajudicial exprimia a vontade do povo, que clamava por vingança. O policial apertou o pescoço do rapaz com a energia da massa, que queria o linchamento”, acrescenta Soares. “Foi um assassinato respaldado por toda a sociedade”, finaliza Yvonne.
Sobre a morte de Sandro do Nascimento, Yvone, Luiz Eduardo e Rodrigo concordam.“Baseado no entendimento do tribunal do júri, que absolveu os policiais, a quase totalidade da sociedade carioca queria estar naquela viatura do Bope, enforcando Sandro do Nascimento”, observa Pimentel. “Essa execução extrajudicial exprimia a vontade do povo, que clamava por vingança. O policial apertou o pescoço do rapaz com a energia da massa, que queria o linchamento”, acrescenta Soares. “Foi um assassinato respaldado por toda a sociedade”, finaliza Yvonne.
Caso ainda mexe com envolvidos
A linha 174 foi extinta pouco depois do dia do sequestro. Mas as sensações daqueles momentos ainda estão bem vivas em quem presenciou o crime. "Eu passei um mês escutando a voz do Sandro: 'Delegado, isso não é filme, não. Já matei uma. Vou matar outra.'", recorda Vanessa Riche. “No cinema, quando fui ver o documentário, eu me abaixei na poltrona quando o Sandro atirou. Eu chorei quando assisti ao filme”, revela a repórter.“Até hoje comento com minha mulher, em casa, o momento em que o Sandro matou a professora”, diz Delvalle. “Eu senti muita pena das meninas. O cara (Sandro) foi muito ruim. Ele merecia morrer umas cem vezes. Se tinha raiva da polícia, por que não atirou nos policiais? Não podia ficar torturando as meninas e depois matar uma delas”, esbraveja o segurança Ronaldo Veras, como se o crime tivesse ocorrido na semana passada, e não dez anos atrás.
Além de ter marcado a vida dos personagens desta reportagem, que viveram de perto a tragédia, marcou também a vida deste repórter que vos escreve. Nunca vou me esquecer do choro incontido, no dia seguinte, ao passar de carro pelas flores depositadas junto a uma árvore, próxima ao local do sequestro. Hoje, no tronco, ainda é possível ver vestígios de uma pintura, em vermelho, onde se lê duas palavras que estavam ausentes no ônibus 174: “paz” e “amor”, com um coração entre as duas palavras.
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